domingo, 22 de abril de 2012

INTERPRETAÇÃO: Eu te devoro


Eu Te Devoro: a metáfora dos desejos





          O cantor e compositor, Djavan, nasceu em Maceió no dia 27 de Janeiro de 1949. Suas músicas são conhecidas pela ousadia que ele tem de compor e usar nas suas letras sentidos metafóricos. Uma de suas músicas mais conhecidas chama-se “Eu Te Devoro”, lançada no ano de 1998, para o álbum solo “bicho solto”, sendo esta o maior destaque do álbum. A letra da canção fala sobre um relacionamento amoroso, no qual encontra-se a forte presença do desejo carnal. Desse modo, essa música acaba sendo exposta como uma declaração de amor e ainda pode-se perceber algumas características parnasianas, embora seja uma poesia contemporânea, por apresentar uma estrutura fundamentada em rimas bem elaboradas.
De acordo com Paschoalin & Spadoto (2008), metáfora é um termo empregado com sentido de outro. É fundamentado nessa figura de linguagem e no culto à forma poética, que Djavan compõe as suas canções, e Eu Te Devoro acompanha essa característica, sendo por isso assemelhada a estrutura da poesia parnasiana onde há uma junção de palavras que organizadas, resultam em rimas bem elaboradas.
            Na música “Eu Te Devoro”, encontramos logo na primeira estrofe, uma certa confusão da “pessoa do discurso” com relação a pessoa que por quem provavelmente está apaixonado, quando ele diz: “Teus sinais, me confundem da cabeça aos pés, mas por dentro eu te devoro, teu olhar, não me diz exato quem tu és, mesmo assim eu te devoro...”, encontramos aqui uma evidência de que ele não conhece a fundo a pessoa que ama, mas mesmo assim torna-se inevitável a atração e o desejo de tê-la, evidenciando-se a atração carnal. Já na segunda estrofe pode-se perceber que quando se diz: “Te devoraria a qualquer preço, porque te ignoro, te conheço, quando chove ou quando faz frio”, aqui encontramos uma distorção se comparada a primeira estrofe, pois, agora a canção já  mostra que a pessoa apaixonada já conhece a outra muito bem em qualquer circunstância e, consequentemente, a atração e o desejo de tê-la continua predominante.                                                                                                                                                      Nas duas últimas estrofes da música, encontramos a exaltação da figura da pessoa amada, comparando-a sempre a algo sublime. Tal conclusão pode ser retirada dessa música, ao analisar-se a seguinte estrofe: “É um milagre tudo que Deus criou, pensando em você, fez a via – láctea, fez os dinossauros, sem pensar em nada, fez a minha vida e te deu”.  Djavan finaliza a música mencionando o seguinte: “Eu quero mesmo é viver, pra esperar, esperar, devorar você...”, aqui podemos notar que mais uma vez o compositor destaca o desejo existente em uma pessoa de envolver-se carnalmente e emocionalmente com outra.

Contudo, o compositor de Eu te Devoro, Djavan, expressa por meio dessa canção algo que pode ser entendido como um sentimento amoroso, ressaltando com bastante intensidade tudo que sente pela “pessoa amada”, caracterizando-se então como uma poesia analisada não somente como uma canção para as pessoas apaixonadas, mas também como uma combinação harmoniosa entre uma melodia prazerosa e uma estética poética bem elaborada. 

INTERPRETAÇÃO: Segundo Sol



O segundo sol: a chegada de um novo começo




            A Canção Segundo Sol, foi composta pelo ex-integrante do grupo Titãs, Nando Reis, mas obteve maior destaque ao ser interpretada na voz de Cássia Eller, onde por volta de 1990 atingiu o seu apogeu, embora mantenha-se ainda como uma das mais ouvidas músicas da MPB (música popular brasileira). Essa música, no entanto, pode referir-se ao parnasianismo, já que nela percebe-se a presença de uma estrutura poética elaborada em torno de rimas, remetendo-se á várias interpretações fundamentadas no principio da relatividade, onde não há verdades absolutas. Desse modo, O Segundo Sol, pode ser uma música que fala de amor, de um nascimento ou de esperança, dependendo do ponto de vista de quem à analisa, deixando de ser um evento cósmico e científico, para se transformar em um pensamento filosófico.
            A música “O Segundo Sol”, criada pelo compositor Nando Reis, embora tenha estourado nas rádios em meados da década de 90, ainda é uma música bastante apreciada, principalmente pelo fato de ter sido interpretada por uma das mais irreverentes vozes da MPB, a cantora Cássia Eller. A música apresenta as suas ligações com a literatura e, desse modo, O Segundo Sol, pode ser entendida como uma poesia que apesar de não ser parnasiana, apresenta algumas características desse movimento como a descrição de fenômenos científicos, rimas e sentimentalismo sem exageros, tendo como base o conceito dado por Nicola (2009), ao Parnasianismo.
O título dessa canção, logo a principio, leva ao questionamento do que seria verdadeiramente o segundo sol. O princípio do relativismo, caracteriza-se por afirmar que em certas áreas a verdade é relativa a um certo ponto de vista, quer seja do singular quer seja do plural, (Nogueira e Paulo Gadelha, 2003), ou seja, o que para uma pessoa significa verdade, para outra pode não ser. E o Segundo sol seria justamente a transformação de conceitos, o surgimento de novas opiniões, sejam elas neste caso, referentes ao amor ou não.
            A primeira estrofe da música retrata: “Quando o segundo sol chegar, para realinhar as órbitas dos planetas, derrubando com assombro exemplar, o que os astrônomos diriam se tratar, de um outro cometa”, primeiramente, nota-se que Nando Reis refere-se à um acontecimento cósmico, entretanto, implicitamente esta estrofe remede a ideia de que a chegada do Segundo Sol, uma nova verdade, descontruiria antigos conceitos, levando a formulação de novas opiniões. Logo em seguida, têm-se o seguinte: Não digo que não me surpreendi, antes que eu visse você disse, e eu não pude acreditar, mas você pode ter certeza, de que seu telefone irá tocar, em sua nova casa, que abriga agora a trilha, incluída nessa minha conversão”, nessa estrofe percebe-se que a nova verdade que chega, causa surpresa promovendo a conversão, que neste caso seria a transição de conceitos.
            O Segundo Sol finaliza-se com a seguinte estrofe: “Eu só queria te contar, que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia e a vida que ardia sem explicação. Explicação, não tem explicação”. Essa última, porém não menos importante estrofe, mostra que uma pessoa está sujeita a deparar-se com “dois sóis”, ou seja, com mais de uma verdade. A verdade que prevalecerá, será a que tal pessoa achar mais conveniente acreditar, mostrando que, em determinadas circunstâncias, os acontecimentos não são explicados, por não ser possível ou por não merecerem esclarecimento.
            Sendo assim, a música “O Segundo Sol”, de Nando Reis, popularmente conhecida na voz de Cássia Eller, é resultado de uma combinação harmoniosa entre uma melodia suave e uma estética musical digna de ser apreciada por todos que tenham bom gosto com relação à música. Os apreciadores dessa canção são submetidos as mais variadas sensações, desde o relaxamento à empolgação, transmitindo a mensagem de que os seres humanos estão propícios a aceitarem como verdade aquilo que lhes convêm.  Desse modo o segundo sol, segue como um termo que refere-se a qualquer assunto, desde que este proponha o recomeço. Seria então a transição de conceitos e as constantes e incessantes mudanças de opiniões, deixando um espaço aberto para as mais diversificadas interpretações.
           

                                          Eloyna  Alves  

A escravidão de caráter doméstico



No século XXI, a mulher desempenha um papel que vai muito além dos afazeres domésticos, destacando-se no mercado de trabalho, relacionando sua imagem não mais unicamente a cuidar do marido e dos filhos, diferentemente de séculos posteriores. Mais precisamente no século XIX, a mulher vivenciava o período da escravidão, onde era submissa às ordens e aos maus tratos de seus senhores. Embora tenha-se passado o tempo, a escravidão feminina ainda é uma realidade, só que agora em um novo contexto, ela ocorre dentro de própria casa e é exercida por seus maridos.
A mulher moderna assumiu postos que antigamente eram ocupados unicamente por homens. Graças a sua ascensão, ela é engenheira, motorista e até mesmo presidente. Seu papel na sociedade aumentou, pois agora, ela é mãe, esposa, dona de casa e profissional, conquistando a sua autonomia doméstica, financeira e sexual. Acontece que infelizmente essa não é uma realidade de todas. Mesmo em meio a tanta modernidade, ainda existem mulheres que vivem submissas a seus maridos independentemente de serem autônomas financeiramente ou não, colocando-se a dispor de seus anseios e desvalorizando seus próprios desejos.
É esse comportamento que leva a assemelhar a figura da mulher do século XIX com a do XXI, pois enquanto as escravas eram torturadas por seus senhores, a mulher moderna é violentada por seus maridos. Surras, violação sexual, ofensas verbais, são todas características do total desrespeito do homem para com sua companheira que deveria ser bem tratada e falta de amor próprio da mulher que submete-se a tais agressões, como mostra a charge acima.
Contudo, o fato da mulher ter conquistado um espaço maior na sociedade não a coloca desprendida de seu passado. A submissão da mulher ao homem à insere em um contexto de exploração,  subordinação e muitas vezes violência, que muito se assemelha as características da escravidão. Essa é uma realidade triste que precisa ser modificada. Uma das alternativas é a conscientização da mulher de que ela não necessita de um homem para realizar-se como pessoa, principalmente se esse homem lhe maltrata.  




                                                                                                      Eloyna Alves 

Compre produtos e leve gratuitamente a ilusão de uma vida perfeita



O ramo publicitário está cada vez mais investindo em campanhas de marketing para atrair os consumidores a fim de induzi-los a comprarem seus produtos. O setor de cosméticos é um dos mais afetados por esse tipo de campanha, a exemplo da empresa O Boticário que lançou em 2012 a campanha: a vida é bonita mas pode ser linda, associando a imagem da mulher ao seu poder de sedução a ao seu amor próprio. Tal associação expõe-se visando chamar a atenção dos consumidores, em sua maioria mulheres, para persuadi-los e manipula-los a comprarem produtos de O Boticário através do convencimento e da mensagem transmitida implicitamente de uma vida perfeita, de uma vida linda.
Como as grandes empresas já se deram conta de que a publicidade faz toda a diferença, elas não medem esforços quando o assunto é propaganda. A grande maioria, tanto das empresas quanto da população consumidora, tem conhecimento de que o poder de convencimento existente nos comerciais e anúncios é um grande agente manipulador da sociedade de consumo. A diferença é que as empresas usam esse artifício para gerar lucros e enaltecer a sua marca, enquanto os consumidores compram determinados produtos não somente para satisfazer seus desejos pessoais como também para inserir-se em uma sociedade consumidora que influencia-se facilmente, principalmente quando o tema está relacionado a estética, destacando-se nesse caso, as empresas de cosméticos como O Boticário.
A mais nova campanha de O Boticário, a vida é bonita mas pode ser linda, vem sobrecarregada essencialmente por dois elementos: a sedução e o amor próprio, ambos relacionados a projeção de uma vida melhor. O anúncio dessa campanha traz a imagem de uma mulher, para despertar em outras o desejo de sê-la e nos homens a vontade de ter uma mulher como a que é apresentada. Pode-se ainda perceber que essa figura feminina expõe-se como um exemplo de mulher que se cuida, se arruma, atrai os homens e acima de tudo se ama. Esse anúncio ainda vem acompanhado de uma mensagem futurista quando a mulher retratada diz: “um dia eu quero chegar lá, mas quero chegar linda”, mostrando uma mulher que preocupa-se com o futuro, e consequentemente, com a sua aparência.
Dessa maneira, esses elementos são utilizados em campanhas publicitárias no intuito de fazer com que os consumidores sintam-se fazendo parte vida perfeita, projetada pelas empresas, pelo simples fato de comprarem o que elas vendem. Comprar perfumes, maquiagens ou qualquer outro tipo de cosmético em O Boticário não fará grandes mudanças na vida de ninguém, entretanto, como a estética está associada ao bem-estar pessoal e impessoal, as pessoas compram e sentem-se melhor ao consumirem, tudo isso ocasionado pelo forte e poderoso poder de persuasão contido nas campanhas publicitárias que cada vez mais estão vendendo uma imagem que não condiz com a realidade induzindo as pessoas a alimentarem a ilusão de uma vida sem problemas, uma vida perfeita. Assim como duendes e gnomos não existem, a vida não vai se tornar perfeita porque pessoas saem nas ruas perfumadas. É chegada a hora de ser mais realista e desprender-se das fantasias que a sociedade de consumo nos impõe. 




                                                                                       Eloyna Alves